Lugares inóspitos / Uninhabitable places
CCP (Centro Cultural Português) - Luxembourg
01/02/2018 - 09/04/2018
Works on paper – Obras sobre papel – Peintures sur papier
ESPELHOS RUÍDOS INÓSPITOS
mirrors noise inhospitable
miroirs bruits inhospitaliers
[EN]
Uninhabitable places
“There is no foreign land; it is the traveller only who is foreign, and, now and again, by a flash of recollection, lights up the contrasts of the earth”. – Robert Louis Stevenson [1]
“According to Proust, it is a matter of chance whether an individual forms an image of himself, whether he can take hold of his experience. It is by no means inevitable to be dependent on chance in this matter.” – Walter Benjamin[2]
What places do I want? I recognise myself on a sheet of white paper. But full of colours how I find myself on it? In the tranquillity of my attic, surrounded by my books and objects found here and there, the journey begins on a small sheet of paper, led by a colour that insists on sliding towards its edge. I lose what surrounds me. Insecure, an unknown territory awaits me. I think about making a house, a garden, making the landscape grow up until the limit of my gaze. And none of this happens. There is no point thinking about what I want. That is a field in the domain of the known, of what has been lived. Colours invade me and their order does not stabilise. At each movement my gesture is countered. I stare at the space that I am constructing and that I do not recognise but I desire. I sense distant places, strange people, contaminating atmospheres, difficult accesses. Arid, lifeless landscapes. Because this space that my hands step by step discover is constructed opposite to the place that I am in. Might it be uninhabitable? To try to survive is what I am trying now, moving the paints away on the paths of the paper. Survive? In vain I try to find myself in this inhospitable land, but what I sense is a slow dive into the sea of colours. I am present in each of these other places and I look through the red, blue, green. In the fold of any of these colours is my gaze. Does whether it finds these places before dying or never finds them depend only on chance, on desire, on hope? Or is that how the world ends?
Pedro Calapez, October 2017
[1] Stevenson, Robert Louis (1883). The Silverado Squatters. Kindle Books (p. 48, location 661)
[2] Benjamin, Walter (1968). Illuminations. New York: Schocken Books (p. 158)
[PT]
Lugares inóspitos
“Não existem terras estrangeiras, só o viajante é estrangeiro.” – Robert Louis Stevenson[1]
“Segundo Proust, depende do acaso cada indivíduo adquirir ou não uma imagem de si próprio, ser ou não ser capaz de se apropriar da sua experiência.” – Walter Benjamin[2]
Que lugares quero? Conheço-me numa folha de papel branco. Mas pleno de cores como me encontro nele? Na tranquilidade do meu sótão, rodeado dos meus livros e objectos, encontrados aqui e ali, a viagem começa numa pequena folha de papel, conduzida por uma cor que insiste em deslizar até ao seu bordo. Perco o que me rodeia. Inseguro, um território desconhecido me espera. Penso fazer uma casa, um jardim, fazer crescer a paisagem até ao limite do meu olhar. E nada disso acontece. Não vale a pena pensar no que quero. Esse é um campo no domínio do conhecido, do já vivido. As cores invadem-me e a sua ordem não se estabiliza. A cada movimento o meu gesto é contrariado. Fico a olhar para o espaço que estou a construir e que não reconheço mas que desejo. Pressinto lugares distantes, pessoas estranhas, ambientes contaminantes, acessos difíceis. Paisagens áridas, sem vida. Porque este espaço que as minhas mãos descobrem passo a passo constrói-se no oposto do lugar em que me encontro. Será inabitável? Procurar sobreviver, é o que tento agora, afastando a tinta nos caminhos do papel. Sobreviver? Em vão tento encontrar-me neste terreno inóspito mas o que pressinto é um lento mergulhar no mar das cores. Estou presente em cada um destes outros lugares e olho através do vermelho, azul, verde. Na dobra de qualquer das cores está o meu olhar. Que encontre estes lugares antes de morrer ou jamais os encontre depende unicamente do acaso, do desejo, da esperança? Ou é assim que o mundo acaba?
Pedro Calapez, Outubro 2017
[1] Stevenson, Robert Louis (1883). The Silverado Squatters. Kindle Books (p. 48, location 661)
[2] Benjamin, Walter (1968). “Sobre alguns motivos na obra de Baudelaire”, A Modernidade, Obras Escolhidas de Walter Benjamin/3. Edição e Tradução de João Barrento, Assírio & Alvim, Lisboa, 2006.
[FRA]
Lieux Inhabitables
“Il n’existe pas de terres étrangères. C’est le voyageur lui-même qui est étranger” – Robert Louis Stevenson[1]
“Selon Proust, il dépend du hasard qu’un individu acquière ou non une image de lui-même, qu’il devienne capable ou non de s’approprier son expérience.” – Walter Benjamin[2]
Quels sont les lieux que je veux? Je me retrouve dans une feuille de papier blanche. Mais si le papier est plein de couleurs, comment puis-je je me retrouver en lui ? Dans la tranquillité de mon grenier, entouré de mes livres et de mes objets trouvés ici et là, le voyage commence sur une petite feuille de papier, voyage guidé par une couleur qui veut glisser jusqu’au bord de la page. Je perds ce qui m’entoure. Insécurisé, un territoire inconnu m’attend. Je pense à faire une maison, un jardin, à faire grandir le paysage jusqu’aux limites de mon regard. Rien de cela ne se passe. Il ne sert à rien de penser à ce que je veux. Ce que je veux appartient au domaine du connu, du déjà vécu. Les couleurs m’envahissent et leur ordre ne se stabilise pas. À chaque mouvement mon geste est contrarié. Mon regard se fixe sur l’espace que je suis en train de construire et que je ne reconnais pas, mais que je désire. Je pressens des lieux lointains, des personnes étranges, des environnements contaminés, des accès difficiles. Paysages arides, sans vie. Parce que cet espace que mes mains découvrent progressivement se construit en face du lieu où je me trouve. Se pourrait-il qu’il soit inhabitable? Chercher à survivre : voilà ce que j’essaie de faire en ce moment, en déplaçant l’encre sur les chemins du papier. Survivre? En vain j’essaie de me trouver dans ce terrain hostile, mais la sensation que j’éprouve est celle d’un lent plongeon dans une mer de couleurs. Je suis présent dans chacun de ces autres lieux et je regarde à travers le rouge, le bleu, le vert. Mon regard est dans le pli de chacune de ces couleurs. Que mon regard trouve ou non ces lieux avant que je meure dépend-il seulement du hasard, du désir, de l’espoir? Ou bien est-ce de cette façon que le monde se termine?
[1] Stevenson, Robert Louis (1883). The Silverado Squatters. Kindle Books (p. 48, location 661)
[2] Benjamin, Walter (1968). Illuminations. New York: Schocken Books (p. 158)