[PT]
Na exposição “Fragmento” Pedro Calapez apresenta diversos trabalhos recentes: obras sobre papel, uma instalação e uma projecção em vídeo.
Em todos persiste uma característica: cada um é o resultado da soma visual das suas partes, aquelas em que foram divididos. Estas obras revelam modos diferentes de processar a fragmentação ou divisão.
Por exemplo: em “árvore jacente” e “conversation piece”, constituídas por conjuntos de folhas de papel montadas em quadrícula, o desenho continua-se de folha em folha , tratando-se assim de gigantes desenhos divididos em partes; na obra “Gymnasium”, apresentam-se lado a lado 16 desenhos diferentes, confrontando as suas diferentes histórias. Mas essas histórias não são tão diferentes assim pois um denominador comum têm estes 16 painéis: todos compartem um início por um conjunto de linhas simples que se vão desdobrando por sobreposição, duplicação, repetição que nos seus diferentes desenvolvimentos atingem situações distintas; stream é constituído por uma dupla projecção de vídeo, colocando lado a lado, a sucessiva construção e desconstrução de múltiplos desenhos virtuais; em “Naked Eye”, 93 desenhos a tinta da china estão montados como uma história sem nexo, rectângulos que se sucedem numa hipotética e esquemática planificação visual de um inexistente guião.
Em todos eles uma singularidade se constata: o olhar recebe uma realidade truncada, mesmo quando lhe é permitido desvendar continuidades, seja na linha que percorre as adjacentes partes, seja nos temas que pode descobrir na evidência de repetidas variações.
A organização de uma obra em partes conduz um olhar fragmentado. As eventuais continuidades sugeridas, pelo tipo de suportes ou materiais utilizados, não são suficientes para o entendimento de uma totalidade pois a interrupção que cada fragmento promove obriga o olhar a operações de reconstituição e de memória.
Pedro Calapez
[ENG]
In my recent work, several pieces show that each one is the product of the visual sum of its divided parts. These works, however, establish different modes of enacting fragmentation or division.
For instance: in “arvore jacente”, composed of series of digitally printed paper sheets mounted one after the other in a grid pattern, the drawing resembles an enormous work divided up into parts; in the work “Gymnasium”, sixteen separate drawings are presented side by side, their different stories confronting each other. These stories share a common denominator, however: the drawings on these aluminium panels reflect a process of unfolding, superimposition, duplication and repetition of a minimal series of simple lines, culminating in sixteen distinct images; in “Naked Eye”, drawings in Indian ink are presented as a disconnected story, a succession of rectangles in a hypothetical and schematic visual plan for a non-existent script.
Something unique is evident: the gaze takes in a truncated reality, even when “continuities” are allowed to be revealed, whether it be on the line that runs through the adjacent parts or in the themes that can be found in repeated variations.
The organisation of a work into parts leads to a fragmented gaze. The eventual connections implied by the type of supports and materials used are insufficient for understanding its totality, as the interruption that each fragment imposes forces the gaze to reconstitute itself and to remember.