Da série “Naked Eye” (2012), escolheram-se 12 desenhos a tinta da china que revelam partes de uma história sem nexo, rectângulos que se sucedem numa hipotética e esquemática planificação visual de um inexistente guião.
Personificam o rápido discorrer das ideias, o vertiginoso fluir do desenho em que o representado se estrutura à medida que as linhas negras escorrem no papel. O olho está nu pois não consegue encontrar protecção perante o visível.
A série “pequenos corpos”, 2012/2013 encara o suporte como algo de transformável. Esquecida a superfície plana as cores ondulam agora num suporte de limites sinuosos, deformações que parecem transportar para fora da parede a imensidão de cores que transportam. Trata-se de pinturas que manifestamente se transformam em objectos pois ocupam o espaço do espectador contrariando a leitura convencional do “quadro”.
Conversation piece” e “frame” fazem parte dos trabalhos em que experimento as diferentes potencialidades de manipulação da imagem no computador mas também no ipad e no iphone, que se materializam através de impressão digital sobre papel ou outros materiais, em imagens únicas ou fragmentadas.
Sobre o gesto poderei afirmar que o fragmento é o seu elemento catalisador, e como nos diz Bresson, o gesto poderá bem ser o elemento deslumbrante e esclarecedor que traz a luz interior à composição solidificando a multiplicidade de leituras, isto é, fixando o fazer e proporcionando a inter-relação com todos os outros fragmentos que constituem a totalidade da obra. E o fragmento, contendo em si o gesto estabelece o imprevisto caminho das imagens.
Mas este gesto não é “gestual” mas sim elemento explicitador da diferença entre o espaço real e o espaço pictural experimentado pelo observador. Estes gestos são puros momentos de pintura e surgem como marcas que misturam a experiência estética com o fluir da imagem. O gesto é a física contrapartida da imagem, do representado, ampliando o conhecimento do espaço visual, e a apreensão do espaço existente entre os fragmentos. O preenchimento da superfície do fragmento conduz à noção de acumulação, do peso da cor, visual mas igualmente físico na sobreposição das canadas de tinta. O peso da cor convoca igualmente o “detrás”, o fundo dos fundos, o que se encontra entre o suporte e a superfície da pintura. No detrás do representado encontro uma leveza. Como se do interior do suporte as cores tivessem migrado para a superfície da pintura. Resta-nos um especial vazio, um vazio cheio da não presença das cores e das linhas. É nessa leveza que se define também o tempo da pintura, pois o seu espaço se revela num vazio, como o refere Maria Zambrano: vazio: onde não há nem peso nem resistência (distância a percorrer).